Sol
A dor de não saber. Quando se perde mês e meio entre as quatro paredes de um hospital. Quando se sai, a memória apagada pela química e pela rotina milimétrica, dói. De vazia. Falta-me um mês de vida, um Natal, um fim-de-ano e um Janeiro. No entanto, os cá de fora dão-me migalhas: que choveu sempre; que aqui não nevou; Que a Igreja negou Sócrates ( por quantos dinheiros ou quantas Romas? ); que o ano vai frio e desempregado; que aquele morreu e que mais nasceram. As pequenas revoluções do quotidiano. Eu, de pijama e chinelos. O Mundo a continuar. E uma falha, mais uma, nos meus retalhos de vida. Nos médicos. E a namorada. E a literatura adiada, e a vida, de construída já, a continuar com a normalidade milimétrica dela, e a memória, de não presente ( nunca é presente, aliás ) não necessária; apenas dolorosa, como todas as vias.
Agora, o novo ano cortado rente, mal nascido, entra em cena e saí de cena todos os dias, e novas coisas nascem e morrem, como antes. Recomeçar? Ando a pensar que nunca se recomeça. Por excesso de bagagem. Apenas se re-arranca. Vou impelido como sempre se vai, rumo ao futuro, e agora, um mês mais leve. E discuto, brandamente, comigo, se perdi o tempo ou se ganhei mais tempo. Como no cabeçalho, então: Outro Tempo; que mais às vezes não é suficiente.
Da higiene e da Monarquia
Nas cores dos cavalos lusitanos há uns que são de cor Isabel. A explicação é tripla. Ou foi Isabel I de Inglaterra que prometeu não despir a camisa enquanto Francis Drake não voltasse ( 2 anos ), ou uma Isabel Austríaca a que não recordo o número que fez o mesmo por bem da derrota de Napoleão ( este não tenho bem a certeza, mas fica bonito ), ou, e mais provavelmente, Isabel, a Católica, decidiu manter a indumentária até à queda de Granada ( 3 anos ). De qualquer modo, os cavalos são de um branco quase beije, que poderíamos, faltando ao respeito a três Damas, de chamar de branco sujo. Para mim, que amo os bichos, acho que a cor lhes foi dada pela nobreza do porte. Mas, como lenda, fica assim; são cor Isabel, porque são belos.
Adenda
Na verdade, dois Hospitais. De 19 de Dezembro a 30 de Janeiro.
Adenda 2
Bibliografia A: Não estando com paciência, as referências vão abreviadas. Para mais informação, vão à Net. Linha 1: Litle Nemo, os dois volumes públicados em Portugal ( que eu conheço, pode haver mais ) da Livros Horizonte, e uma antologia americana, completa, mas menos bela; Winsor McKei, circa 1900. Linha 2: a Ilha do Tesouro ( dedicado à Namorada ) Os Miseráveis, e uma antologia da revista Mad. Ao centro, uma completa das famosas gravuras, das quais umas são prisões, outras antiguidades romanas ( da Taschen, uma pechincha ); Piranesi, como a própria lombada indica.
Biblografia B: Seis albuns de Cosey, um dos grandes, que dispensa discriminação ( é ler, em Francês, Senhores ); um pequeno livro iluminado, de William Blake ( faz sete )
Adenda 3
“Este Freud faz mais estragos que a Pneumónica” Pasteur, Luis, Voyer Insigne