2º.
Onde ir, se me garanto, com o peso sólido de acreditar em mim, que não há caminho? Uma deslealdade ao estabelecido foi, lentamente, corrompendo a minha crença no Ideal, e um esvaziado eu quer praia e sol, mas já não olha a onda. A Revolução, como imposição do novo, é inevitável. Pegar em armas obsceno. Matar por aquilo que acredito é não acreditar em nada do que acredito. Pego um cravo branco. Mato uma saudade. E faço versos porque acredito, ainda, no poder redentor da palavra. A cantiga é uma arma? É. Mas não mata ninguém. E aqui pacifista me confesso, de um pacifismo bruto e inculto.
Revolução
Aqui jaz a revolta por manifestamente pouca
É tempo, senhores, da Nova Revolução
Eu nasci no ano da graça de 1968
Quando em Paris se renovava o mundo
Agora apelo aos meus: É Hora
De pegar de novo em hinos
E cantar o Tempo Novo que se eleva
Já sabemos todos os homens livres e iguais
E as mulheres ao nosso lado como antes
Sabemos o espaço de Deus
Reverenciamos os anjos
A Liberdade é nossa porque a ganharam por nós
Filhos do Ocidente, é tempo de charruas
Dá-me a mão tu que precisas da minha mão
Exige de mim
Já não pelo mal que te fiz mas pelo bem
Que tenho de fazer, por mim
Sim por mim eu sou igual na carência
Livre ocidentalmente livre
Na minha racional montanha
Ai as vistas não são boas
Da minha ocidental montanha
Pequena História das
Revoluções Verdadeiramente Importantes
Caiu a Bastilha
Nasceu a Comuna
Depois veio o Maio
E nasceu Abril
Revolução 2
A minha teoria é a seguinte
O mundo é bom; o homem é bom
A circunstância é que tem dias
Bons e maus uma espécie de humor
Flutuante como acção cotada
Uma blue chip caprichosa
Interlúdio Romântico
.
Folha Seca
Vai até onde te levam, folha seca
Vai no vento desses hálitos, onde te sopram
As bocas dos que ordenam teus destinos
Vai na frase, vai no grito, vai no olhar duro
Vai, mas não penses que é futuro
Esse construirás com os teus sonhos se os tiveres
Com a mais que certa lágrima, com a segura dor
Com o tijolo roubado, a argamassa podre
Com a tristeza de saberes que nada sabes
Dessa vontade que te leva a construir
Eu não. Eu escolhi ficar aqui neste meu canto
A sonhar estes meus sonhos derradeiros
Escolhi, não fui escolhido, e não me importa
Que venha dessa escolha a mais que certa lágrima
A mais segura dor, a tristeza de tudo saber
Desta vontade que me traz imóvel
Desta certeza que me faz quieto
Destes sonhos que imateriais me fundam
Graníticos alicerces do que sou
Soldados ao exercício do vento
Fim D’hoje
Quando um Homem descobre que é de extrema esquerda aos 38, é chato; sente-se que se desperdiçou, lá está, Tempo. A causa da Liberdade tem de ser defendida por libertários. Suponho uma Anarquia no futuro do homem. E quero fazer parte. Apetece-me a crueldade de chacinar regras. Agora que nasce um tempo sem mestres, apetece-me chafurdar sereno nas lições da história. Vou-me levantar e ouvir a Heróica. Ou o primeiro Bethoven que me sair.
Adenda
Alazão
Leva-me contigo, sonho breve
Na tua quimera dourada
Leva-me agora que tarda
E ter pressa não é grave
Montei na tua garupa
Alazão de pelo claro
Não tenhas galope avaro
Corre comigo este mapa
Transpõe todas as fronteiras
A salto como era então
Nos tempos da comoção
Atrás de antigas quimeras
Transpõe tudo o que te trave
Alazão do sonho breve
Não olhes estas barreiras
Como olhaste p’ras primeiras
Galopa, olhos de sonho
Ruma a futuro risonho
Trotarás em lá chegando
Depende de ti o quando
Garupa em que me sento
Veloz como aquele vento
Soprado noutra revolta
Sonha breve qu’ela volta
Que contigo sonho eu
Com cravos, Abris e sois
Sonhe cada um o seu
Juntá-los-emos depois
Depois de um dia lindo
Em que vou enfim chegar
Dar o caminho por findo
Acabar de cavalgar
Tua garupa castanha
Clara como é tamanha
No teu peito de alazão
A vontade coração
Clara da madrugada
Da luz, do brilho, da cor
Terminada a cavalgada
Chegará por fim amor
Adenda 2
L'avenir depend des revolucionaires, mais il se moque bien des petits révoltes
( ouvido num Brell qualquer, nesta forma ou noutra )