Outro Tempo

Porque às vezes mais não é suficiente

quinta-feira, janeiro 28, 2010

 
Four

Atrapalhado nas escritas pelo frio do Inverno. Fico bicho de toca urso e texugo. Volta e meia ponho o nariz de fora mas não me sabe. A casa grande mete água e geme com o vento, a húmidade escorre das paredes e cheira tudo a mofo e cigarros velhos, incluindo eu. Saúdo cada novo raio de sol, e as vidas que alumia, mas a mim falta-me um mês para parir. Março é o meu mês. Definitivamente. Baptizo-me peixes.

I

Trespasso a linha horizontal com olhos duros
Procuro mais substância ou alma
Não há ou a mim não cede
Fico igual ao que era ou ao que queria
Igual em intenção e gesto

Multiplicam-se os planos e os vazios
Numa sucessão de fita
Fico igual ao que era ou ao que fui
Iguais em começar e fim

Trabalhar o olhar é trabalhar o verso
Isso sei

II

Redundante a palavra
Imiscui-se pelas pedras
Lagarto de alma

III

O tracejado na estrada quando conduzia
Era igual à felicidade de ultrapassar
Igualmente tenso
Agora, os comboios
São rápidos e fáceis como o que não exige
Como o que não existe
E vou pelas linhas continuas e paralelas
Como num voo absurdo

IV

Redundante a palavra
Imiscui-se pelos céus
Rola de Alma

V

Vai de novo ao sol a cabeça esbracejante
Medusa e serpe e pedra e voo
O queixo encostado ao peito mudo
Redundante a palavra
E o silêncio absurdo

Adenda

Corre pequenino
Pela vida fora
Corre se és menino
Tem de ser agora

Fica pequenina
Sei que és menina
E irás crescer
Se acontecer

segunda-feira, outubro 19, 2009

 
Three

Entre o saber e a erudição

A vaga que me falta é a vaga que já tive. Estou portanto entre a mesma vaga. A imobilidade, aqui de gesto, acredita inútil a acção, defendendo em círculo. Sou eu mesmo porque não varia a circunstância. Sou eu mesmo na inutilidade morna do mar parado. Gostaria meu o talento das odes, sou eu o silêncio das hostes.

A vaga que afinal não me falta. A verbe que me abandona quando eu não a procuro. Sou a estátua de sal e ainda não olhei para trás, nem vou olhar. Sou mesmo assim. E se subir ao céu ainda subia, fujo de todos os infernos por falta de jeito. Eu parado sem voz defendendo em circulos.

Acredito ainda na memória porque me lembro do meu reflexo. Reflicto porque me tenho como contraparte. Mas mesmo assim não perdi nada, porque se tivesse perdido lembraria a busca. Ou a brusca falta, a aridez do ido. Eu parado de algum modo cheguei aqui. E nada me diz que irei aqui ficar. O reflexo foi, ou não?

Li, quando lia, o que me parecia bom e correcto. Agora já quase não leio. Mas ficou o sumo depois do fruto, a sabedoria espremida. Um dia interroguei-me se era culto erudito ou sábio, e lembrei-me da minha mãe a chamar-me isso mesmo: sábio. E ela era o discernimento em pessoa. Fiquei sábio desde aí.

A diferença entre o erudito e o sábio é o tempo e a intensidade. O erudito pode saber muito, e possuir todas as teclas, mas não ter a chave, e não ser capaz de comunicar. Pode-se porêm saber apenas o óbvio e demonstra-lo e enterrar fundo nos outros a nossa ideia. E se a ideia coincidir com a idade, o tempo for consoante o modo, com muito pouco se alcança a sabedoria.

Qual vale mais então? A necessária. E o tempo que a decida. E o modo que a construa. E o outro que decida.

Medida

Entre as pedras concertantes
Resto voz e meu silêncio
Em vasos comunicantes
Sereno sem saber cio

Onde estás agora sei
E saberei se quiser
Estas por dentro do poema
Onde não posso medir

Adenda

“O Que é a Filosofia?” Ortega y Gasset, meados da centuria finda, lê o Dr. Tempo, e medita

sexta-feira, julho 31, 2009

 
TWO

O mistério dos três bloguesinhos de Fátima

Quando fiz o Outro Tempo, a ideia era fugir ao Mais Tempo, com os seus textos standard de três paragrafos, intercalando poema e prosa, sem música e sem a fotografia, que, graças ao móvel, comecei recentemente a tirar. A ideia era também, fazer um arqueologia do Mais, daí os interlúdios românticos, vendo, numa relação que durava à ano e meio, o que ficara, o que desaparecera, o que seria relembrado, misturado o quotidiano e o ( mau ) humor. Seguem os primeiros textos destes blogues.

12 de Junlho de 2005

Mais Tempo

É o que hoje me apetece. Sendo um começo, parece um pedido humilde de continuação. Não é; é a constatação obvia de que ele existe; para lá das medidas; para lá das visões; para lá. E é para lá que vamos, para esse tempo maior do futuro de todos. Porquê mais tempo, então, para começar? Sinceramente, porque me apetece.


5 de Fevereiro de 2007

1º.

Quando comecei o Mais Tempo, a net era para mim uma novidade recente, a blogosfera uma novidade absoluta. Comecei a ver e fazer ao mesmo tempo. Aprendi. E uma das coisas que aprendi foi que a dimensão da mensagem importa. Eu tenho, e dá-me a impressão que muitos bloguers tem, preferência por coisas curtas, imediatas; não forçosamente vagas ou ocas, mas que sejam rapidamente consumíveis. Isto não invalida uma segunda, terceira, quarta leituras, mas o post tem de ser rápido a dizer o que tem para dizer. Estruturei o Mais Tempo assim, em velocidade.
Coisas há, porém, que me levam mais tempo, ou, neste caso, outro tempo. Coisas que eu acho que precisam de mais tempo de antena, mais exposição; há também coisas mais longas, mais elaboradas, que me apetece agora fazer. A imagem. Talvez o som. Tenho projectos que precisam de espaço e cor. Assim, funda-se aqui este Outro Tempo, pensando mais em amplitude, em diversidade, em cruzamento. Pensando mais.

Porquê agora o Tempus?

Bem, Sinceramente, porque me apetece, e porque o Outro Tempo está a ficar muito pouco “integral” e a pensar de menos. A fotografia entrelaçada ao verbo, é para o que servirá o Tempus; o Mais Tempo ficará como sempre esteve; o Outro Tempo vai ficar como ligação / opção entre os outros dois. Assim, senhores, explica-se o mistério. A Fátima, essa, é uma amiga. E não é Maria, vejam lá!

Adenda


sexta-feira, julho 10, 2009

 
One



Hoje vou de voo. O meu trisavô, um deles, era Arrais. Uma espécie de antepassado pirilampo, que seguia fogos para voltar à areia. Para onde vou são areias negras e almas brancas, e quinze dias só nós. Laços que o tempo curto de 15 dias vai apertar, e depois apartar. Assim, senhores que ficais, na minha fachada brilha a luz de voltar, e um Jardim mal cuidado, que afinal o que importa é a Rosa, e a Rosa é hoje. Branca.


Adenda

A minha cabeça cedeu novamente. Mais um mês fora do Mundo, ou numa pequenissíma parte dele. Voltei.

Adenda 2

Inaugurei um novo Blogue. Era para se chamar Tempus. Correu mal; agora é Tem us: não é pró americano. Assim, vou tentar sistematizar a escrita as imagens e a música ( stil learning, senhores )

Adenda 3

Schumann, Piano Sonatas, 1 e 2 ( entre outros Piano Works ) Klára Würtz, num Cdzinho triplo de graça na FNAC, Classicmania 92920 2001/02

Adenda 4

"Se me tiram o Ópio vou ter de aprender o Tricót" E. A. Poe, sorumbático com o proibicionismo vigente, lamentando paredes meias.

Adenda 5

The Raven, Lou Reed ( excelentemente read ), e mais coisas do pioneiro do Punk ( o Poe, como é Obvio, senhores ) WB 9362-48372-2, 2003


domingo, maio 24, 2009

 




domingo, maio 17, 2009

 

Declaração Pública

Impedido de Exercer, mais uma vez, o Direito de Voto, Pelas Leis da República, Declaro o meu Apoio Ao Parlamento Europeu.

quarta-feira, maio 13, 2009

 
Si



O Peão e a Rainha
Foram os Dois passear
A Rainha perdeu Oiro
P’ró Peão não Encontrar



Um dia de Dóminó
Por dias de Carnaval
O Segundo meteu dó
Porque foi de Festival



Ouvi uma Marselhesa
Tocada num Flautim
Paguei depois uma outra
Que foi dedicada a mim



Como a Torre Prometida
Que enfim é já Devida
Ela é Rei no meu Xadrez

Sendo a Vida Tabuleiro
Que seja o nosso de Chá
Sendo o Xeque Derradeiro
Seja de Mate o Primeiro



Adenda

Aos Amigos, às Ocasiôes, a Braga e ao Porto ( e ao FCP elevado a quatro )

Adenda 2

"A Sabedoria é Igual à Soma da Erudição e da Duração" Dr. Tempo, melancólico num soberbo dia de Primavera, 2009 AC ( e à AAC )

Adenda 3

Ouvir, senhores, "Jacques Brel - Grand Jacques" 2005 Membran Music Lta.

segunda-feira, abril 27, 2009

 




E se Abril de Madrugadas
Ainda não tivesse flor
E se perras encravadas
Ainda doessem espadas

Cabia em papel de carta
Na mesma este nosso amor
Esperando pelo 1 de Maio
Sonhado trabalhador


Adenda

"A Desistência Armada, é Parva?" Ghandy, Advogado Desordenado, circa 1946

Adenda 2

"A massa do Héroi não é Tenra!" Spinola, Generalista Ocular, in "Portugal Não Tem Futuro", circa o fim do cerco


quinta-feira, fevereiro 12, 2009

 
Sol

A dor de não saber. Quando se perde mês e meio entre as quatro paredes de um hospital. Quando se sai, a memória apagada pela química e pela rotina milimétrica, dói. De vazia. Falta-me um mês de vida, um Natal, um fim-de-ano e um Janeiro. No entanto, os cá de fora dão-me migalhas: que choveu sempre; que aqui não nevou; Que a Igreja negou Sócrates ( por quantos dinheiros ou quantas Romas? ); que o ano vai frio e desempregado; que aquele morreu e que mais nasceram. As pequenas revoluções do quotidiano. Eu, de pijama e chinelos. O Mundo a continuar. E uma falha, mais uma, nos meus retalhos de vida. Nos médicos. E a namorada. E a literatura adiada, e a vida, de construída já, a continuar com a normalidade milimétrica dela, e a memória, de não presente ( nunca é presente, aliás ) não necessária; apenas dolorosa, como todas as vias.

Agora, o novo ano cortado rente, mal nascido, entra em cena e saí de cena todos os dias, e novas coisas nascem e morrem, como antes. Recomeçar? Ando a pensar que nunca se recomeça. Por excesso de bagagem. Apenas se re-arranca. Vou impelido como sempre se vai, rumo ao futuro, e agora, um mês mais leve. E discuto, brandamente, comigo, se perdi o tempo ou se ganhei mais tempo. Como no cabeçalho, então: Outro Tempo; que mais às vezes não é suficiente.

Da higiene e da Monarquia

Nas cores dos cavalos lusitanos há uns que são de cor Isabel. A explicação é tripla. Ou foi Isabel I de Inglaterra que prometeu não despir a camisa enquanto Francis Drake não voltasse ( 2 anos ), ou uma Isabel Austríaca a que não recordo o número que fez o mesmo por bem da derrota de Napoleão ( este não tenho bem a certeza, mas fica bonito ), ou, e mais provavelmente, Isabel, a Católica, decidiu manter a indumentária até à queda de Granada ( 3 anos ). De qualquer modo, os cavalos são de um branco quase beije, que poderíamos, faltando ao respeito a três Damas, de chamar de branco sujo. Para mim, que amo os bichos, acho que a cor lhes foi dada pela nobreza do porte. Mas, como lenda, fica assim; são cor Isabel, porque são belos.



Adenda

Na verdade, dois Hospitais. De 19 de Dezembro a 30 de Janeiro.

Adenda 2

Bibliografia A: Não estando com paciência, as referências vão abreviadas. Para mais informação, vão à Net. Linha 1: Litle Nemo, os dois volumes públicados em Portugal ( que eu conheço, pode haver mais ) da Livros Horizonte, e uma antologia americana, completa, mas menos bela; Winsor McKei, circa 1900. Linha 2: a Ilha do Tesouro ( dedicado à Namorada ) Os Miseráveis, e uma antologia da revista Mad. Ao centro, uma completa das famosas gravuras, das quais umas são prisões, outras antiguidades romanas ( da Taschen, uma pechincha ); Piranesi, como a própria lombada indica.

Biblografia B: Seis albuns de Cosey, um dos grandes, que dispensa discriminação ( é ler, em Francês, Senhores ); um pequeno livro iluminado, de William Blake ( faz sete )

Adenda 3

“Este Freud faz mais estragos que a Pneumónica” Pasteur, Luis, Voyer Insigne

terça-feira, dezembro 16, 2008

 















Amor
Sexo
Ausência
Destino
...Trip.

Dura Lex Sed Lex
Dizia
Noé
Entre as vagas de um mar de ausências.

Eu,
Eu choro a Lei Defunta.

Mas Sei-a
Barricada em Esperanças
Na minha memória

Apenas lamento
Porque necessária
A Luta.

Adenda

Aos Passados, Aos Presentes, e à minha Mãe.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

 

Mi

Baby Jesus Partisan

Meu piqueno pai natal
Cheiras mesmo muito mal
Vai-te imbora ó barrigudo
Não voltes nem no Entrudo

Vens descendo a chaminé
Cheio de pó e xulé
Vou acender a lareira
Vou queimar-te a cabeleira

E quando ardendo na chama
Correres gritando “Ó Trenó!!!”
Pede urgência – “Pró Pólo!”
Vai adeus que metes dó!

Vai consolar-te ao Rodolfo
Rena de penca vermelha
E pelinho muito fofo
Larga-me asinha a telha

Que o meu telhado é meu
De chaminé bem direita
Vai poluir a outro o céu
Minha lenda contrafeita!



Adenda

Bibliografia:

Canto superior esquerdo – Santa Claws ( A scary Chrisrmas to all ) – W. Laura Leuck; Ill. Gris Grimly ( p. 12 ) – Chronicle Books, SF, Califórnia, USA, 2006; Canto superior direito – Isto interessa-lhe? – D. Dany; E. Bob de Groot ( p. 30 ) – Meribérica / Liber, Lisboa, Mouraria, CE, 1995 do Século passado; De canto inferior a outro canto inferior – Pai Natal - A Lenda do Pai Natal – Mike Ploog ( pp. 78 e 79 )– Editor supra, 1993 ( neste caso o supra é o anterior ).

Adenda 2

O saco, supra também, não esta datado nem assinado, mas é peça de colecção ( minha )

Adenda 3


Cumprimento à Guida


sábado, novembro 01, 2008

 


Da Sonorização da Paisagem

MJP dá Chopin no MP4. O mar da Cova encova verde no sopé da duna. A serra ao fundo é a da Boa Viagem. Os cigarros são Boa Viagem. Que intercalo com SG. Filtro. Um ciclista vestido de laranja sobre uma bicicleta vermelha esborrata a areia beje. O sol nega-se, mas também não é preciso. Andorinhas do mar e carneirinhos brancos no topo da vaga. Sobre o paredão, quatro homens com quatro canas, numa imobilidade parva. O aquecimento global. Vinte e cinco centigrados, altitude zero, onze do dez, quatro da tarde. Um raio de sol em funil brinda o mar. Eu espero a redenção da nuvem, o ressurgimento azul. Mas não há sol para mim, hoje. Nem é preciso. Basta o mar nos meus Persol. Italianos. Vou mudar para Vivaldi. 4 estações, que vim de comboio. Pouca terra para tanto apeadeiro. Valham-me os topónimos. Coloridos como o Vale do Mondego.

Ciclovia

Trotinete
Trotinete
Que me levas mais além
Não és bem biciclete
Nem par de patins também

Trotinete
Trotinete
Movida de perna e pé
Quando piso na chiclete
Quase que te perco a fé

Adenda

Alhadas, Liceia, Murtede, Enxofaes, p. ex.; O Ramal da Figueira, e uma hora lenta

quarta-feira, setembro 24, 2008

 

O Homem capaz de sonhar tem muito mais alcance que o homem capaz de lembrar. Porque o homem que lembra olha para trás, enquanto que o Homem que sonha olha para a frente. Esta é a tese.

A antitese seria a oposta. O Homem capaz de lembrar veria mais longe porque a nitidez da memória seria mais transparente que o olhar prospectivo ao futuro. Saber baseia-se em factos. Olhar o futuro em, realmente, sonhos; como tal imateriais .

O desempate ( aqui conclusão ) seria que estamos a medir metros em milhas, e chocaremos concerteza em Marte.

Objectivamente, olhar o futuro vai mais longe que olhar o passado. O nosso universo, que limita ferozmente todos os olhares, é jovem, e durará mais do dobro dos anos que conta. Assim, e forçosamente, donde vimos ( de quando? ) é mais curto do que o para onde vamos ( quanto duraremos? ).

Objectivamente, sabemos bem mais, apesar das ferozes limitações da História, do que passou por nós ( e se passou em nós ), do estranho que seremos ( estaremos? ) Amanhã.

O desempate lembra-me Wells, e o último pôr-do-sol do mundo, no tequenicolor que lhe deu Holliwood.

A mosca zumbe
A parede é branca
A tarde cai e o dia manca

Adenda

H. G. Wells, A Máquina do Tempo, 1895

sexta-feira, maio 09, 2008

 
V
( em Latim )




Uma tromba d’água elefantina não na graciosidade mas no volume varre a cidade, e recebe-me o acordar cansado. Café com leite e o verde leitoso das sete da manhã no jardim bem cuidado, que por mim falo. E fi-lo. Quando comecei, há já dez anos, era um quintal. Agora é um jardim de uma geografia íntima mas transmissível, pelo menos aos pássaros, a que agrada, às abelhas, às vespas e a umas coisas brancas que adoram a laranjeira. Eu as pedras a terra o verde e as coisas que nele se criam. E o cheiro doce da madressilva, que preenche tudo ainda mais com chuva. As flores em cachos amarelos e brancos são infância e estão aqui porque eu soube amadurecer com elas. Á tarde, depois da varredela da praxe, sentei-me eu o cigarro e um bicho-de-conta, taratritineto dos que me serviam de berlinde na crueldade de tantas vidas atrás. Este sítio é meu, e eu. E no entanto, é apenas um sítio. Bem cuidado. Será que o ramo mais alto da árvore-da-borracha ainda sabe da raiz? E se sabe, cuida?

Diálogo

Você gosta muito de si. Sim, sou a minha pessoa favorita. Vê-se. E nota-se. E você, gosta de mim? Não especialmente. Então abordou-me só para me desgostar? Sim. Bom; isso é bom. Bom? Sim; bom. Porquê? Porque começou o diálogo; e dialogar é bom. Eu gosto de mim; Você não. Duas opiniões; um encontro; uma nova maneira de ver? Sim; é bom. E modifica. Acho que já gosto um pouco mais de si. E do diálogo? Sempre gostei. De mim? Não; de si, de princípio não gostava.

Interlúdio Romântico
.
De Salão

Algum canto se quebrou
Algum meio foi dobrado
Agora é sempre a descer
Agora é já noutro lado

Dança a dança tola
A correcta dança
Passo é só medido
Rigor de balança

Eu não sou assim
Quando danço agarrado
Eu danço em ti
E não amarrado

Algum canto se quebrou
Algum meio foi dobrado
Agora é sempre a descer
Agora é já noutro lado

Dança pelo metro
Onde não cabe a alma
Eu danço com outra
Deslumbrada calma

Eu não sou assim
Medido a rigor
Eu danço pelas léguas
Ai do meu amor

Algum canto se quebrou
Algum meio foi dobrado
Agora é sempre a descer
Agora é já doutro lado

Fim D’hoje

A atípica chuva, o mesmo mar, a bicicleta; começou a época balnear. Na terça fim do dia na praia, e a redonda onda a ralhar-me mansa uma longa ausência. Leio Eduardo Lourenço, um livro que descobri em Angra, com o curioso título de Tempo e Poesia. Ele há coisas. Ensaios, este sobre, curiosamente, Vitorino Nemésio. Que é da minha infância, gesticulando no preto e branco da oscilante TV. Se bem me lembro. E as voltas da vida, e as rodas da bicla, e o rolar do seixo. E a poesia, e o tempo.

Adenda

Eduardo Lourenço, Tempo e Poesia, Gradiva, 2003

Adenda 2

“Sob o pavimento está a praia” Grito de Maio, em Francês no original, Paris, il y a 40 ans

terça-feira, abril 22, 2008

 
IV
( em Latim )




De Cruzes



E sonos



De pedra



E de asa

( A chuva dos dias
A tua lembrança
O redor da casa
E a minha herança )

segunda-feira, março 31, 2008

 












III
( em Latim )

Uma trepidação obscura
Porquanto epidérmica
A sombra da tua mágoa
Transpõe

Pode ser qualquer mágoa
Ou qualquer sombra
Mas é concreta sombra
E definitiva mágoa

( atribuo-ta
porque o teu nome é agora mágoa
dois-me menos magoada? )

Um pináculo de equilíbrio
Vê de ti o olhar baço
De distância e ignorância
O meu olhar de equilíbrio

E sei que não faço ideia
Mas faço uma ideia
A ideia fixada por ti
Quando te fixava nos olhos

( atribuo
ao tempo que me rege
o dever de fixar lugares )

Temo a pele que largo
Eu a serpe descascada
Mas como sempre a cauda
Desbocado e eterno

( vi num portão
na irónica R. de S. Pedro
com o meu céu na mão )

A pele que largo
Porque me fiz maior
Maiores os meus medos
E o saber lida-los

A música abafa
A pressentida alma
E verdadeiramente deixei de querer
Saber

Agora, só mesmo sentir
Na lisura da epiderme nova
Os novos e concretos medos
E os novos e suaves dias

Adenda

Foto gamada em "filhodalua"


sexta-feira, março 28, 2008

 
II
(em Latim )

ICH={[(I)O](J[E)U]}
.
.

quarta-feira, março 12, 2008

 
I
( em Latim )



Acabou a limpeza da Primavera. É estranho o limpar a Primavera. O meu Prity-prity ( é o petit-non do meu jardim ) está pronto para as madressilvas e as andorinhas. As madressilvas este ano portaram-se diferente. Muita folha muito cedo, nada de flores. Ontem, para as provocar pus-me a ouvir Gardel. Depois ouvi as golondrinas. Vi-as já, mas vinham em patrulha. No domingo de Carnaval. Foram embora outra vez. Eram cinco, no espaço entre as margens do rio. Andaram a mexer no rio. Se calhar não gostaram da qualidade da intervenção. O sentido estético das bestas não cessa de me surpreender. Mas foi bonito ver um tractor de enormes lagartas desalojar um muro demasiado burguês para o séc. XXI. E o rio tem patos. Bravos. Bravo! Um pequeno bestiário luso. Se bem que a andorinha seja transcontinental, como tal cosmopolita.

( Manifesto Projeccionista Português )

Os abaixo assassinados pelo fluir do tempo. Decretam, pela manifesta capacidade de opinar, que sim. Somos projeccionistas. Enterramos, sem pompa devida, o moderno o novo o actual e até o pra lá. Num revisionismo pré-histórico. Ou algo. Assim. Funda-se. )

Interlúdio Romântico

Cesariny

Quando morre um surrealista o mundo fica mais surrealista. A televisão mostra imagens desconexas feitas para serem desconexas e procura-lhes uma conexão que caiba no soundbite. Cesariny foi a enterrar sem presidente da câmara e sem sequer um ministro. Foi de ajudante. E o sr. presidente fez-se esperar um quarto de hora; cadáver à chuva. Bela tela. Confesso que não gostava dele. Daquelas coisas há pessoas que nos enfadam. O pouco que vi dele na exposição dos surrealistas no Chiado era pobre em comparação com o magnifico Vespeira, por exemplo. Do que escreveu li pouco, e não lembro. Agora a atitude colorida no Portugal cinzento nem Almada nos anos dez a levar Lisboa para o futuro à biqueirada se preciso for. Disse não e disse não até poder. Vi-o receber uma faixa no cadeirão da sala, há pouco tempo, como a dizer querem encomendar-me, venham cá casa. Eu aceito. Buscar não vou. Não posso. Custa-me. Nem sou boby. O Surrealismo chamou Arte ao Sonho. E da serenidade de Magritte ao olho cortado de Dali e Buñuel, abrigou em si todas as revoltas e todas as vitórias de um século. Poucas vezes um movimento causou tanto movimento. E no proibido proibir de 68, e nos alucinados cravos de 74 andava um Cesariny a assobiar zarzuelas. Feliz. Morreu de velho e sabia que o mundo estava melhor do que quando era novo. Mais um cadáver esquisito.

( morreu. Eu não o conhecia. O português não é língua morta. )

Fim D’hoje

Esta parte da rede é de duas ( pelo menos ) caras. É assim que é para mim. Eu não sou exactamente o que, senhores, vos exponho. Mas sei, porque me ensinaram, que a v. cara também não é exactamente a que me olha. Assim, onde as circunstâncias me depuseram, digo, com uma clareza não cristalina, que o cristal está caro, mas vítrea: Boas férias. As amigas que se massam ainda a ler-me, anda penoso o comentário. Eu sei porquê, mas não digo; mas comentarei, vindo Tempo.

Adenda

“As regateiras são como os pandas; em extinção mas queridas” A. Malhoa, Mestre-Escola, n.d.

Adenda 2

E se começou no a

Adenda 3

“A capacidade de processamento é igual à totalidade dos dados; O tempo ganha as guerras” Napoireon, designer de camisolas interiores, n.d.

O Cantinho da Musicologia

– Gardel, Carlos; EMI, 1997; f. 13 “Madreselva, tango”; f. 6 “ Golondrinas, tango canción”
– Almodôvar, Pedro, uma p***a de uma colectânea com música de películas próprias
Mi – Ou como diriam os Ena-Pá, pôrra

Adenda 4

Hó-ié

Adenda 5

“ Os acordos ortográficos não devem ser assinados verbalmente” José, enginier, completamente séc. XX

sábado, março 08, 2008

 
i)

Na ambiguidade plena de ser
Eis-me!
Pleno da natural essência
De estar vivo
São
E disposto

Eu sou
Independentemente da forma
Essencial
E basicamente basta-me
O eu que vejo ao espelho
Grande
Que descobri pelos meus móveis velhos

Ai a grandeza do palmo
Só se mede pela mão alheia
Medida de todas as coisas
A capacidade
Sou eu

E a responsabilidade
É minha

Ai o fardo leve da culpa
Nos meus ombros largos
Ai as minhas mãos
Medidas
Do peso , apenas, de meu fardo

Adenda

" O funâmbulista da felicidade é dono da largura do seu arame" Dr. Tempo, meditando sobre o equilibrio

sábado, fevereiro 23, 2008

 





.
j)
.
Ângulos de Inclinação
O quintal no Verão








segunda-feira, fevereiro 18, 2008

 
h)

A mão entorpecida pelo vago frio
Encarquilhada da enxada
O nariz ainda verde e terra
O pingo salgado da testa ao olho

Na permuta entre esforço e canteiro

A Primavera nos ramos do marmeleiro
Brota verde tenro arauto próximo da flor
A Primavera muito cedo em mim
Cascata de turbulência e novo

Na difícil música argentina

A vontade de mais
Não necessariamente como em soma
Apenas mais
Não necessariamente apenas

Uma amplificação de vontade e fôlego
Ar luz e o verde que transformo

sábado, janeiro 26, 2008

 
g)
.
Uma febre antropológica assalta-me e estudo-me atento, dedicado, leio-me com a atenção que usualmente dedico aos clássicos. Ando sem escrever. Mas andei toda a vida sem escrever. Houve anos sem linhas. Houve anos de outras coisas, largos como tombadilhos de idas viagens. Como sempre, a escrita-prédio volta, inevitável. O tijolinho da palavra e a argamassa da vontade. Comunicar. Ou não. Abaixo se verá. A palavra devolvida em revolta, o retrato e os chinelos. Ficou uma amargura que entretanto não durou. A efemeridade da dor. As vezes por troca, outras por desgaste, excesso de uso. As dores são perecíveis ao tacto.

A ira. A idade tira-nos as iras. Uma a uma, as exaltações perecem, vítimas da usura do tempo. Virá o dia da morte da emoção, ou não. Serei um velhinho sensível? Espero que não. Quero uma velhice ríspida, sem netos nem esperanças. Ai azedar como o leite, medalhado por ter vivido, veterano de ver passar comboios. Tenho saudades de alternativas, mas não as teria seguido. Vinha aqui parar, de qualquer maneira. Condenado a mim. E, sinceramente, é leve pena. Sou bom de aturar. A auto-estima e a auto-confiança são sinónimos? Deviam ser. Ou não. O espírito do contraditório merece o acordo de todos os intervenientes. A bem da polémica, da retórica e da eterna dialéctica. Ando à procura de ajuda para pensar, e não a aceito. Prá’i.

Intrelúdio Romântico

Comunicar?

Compete a quem escreve descrever o truque? Ou magicamente apresentar o texto e dizer: Ei-lo! sem escalpelizar a virgula, sem escamar a trama, sem descarnar o fio de cobre improvável da electricidade de comunicar? Escrever sobre. Sobre papel. Sobre o mecanismo. Sobre mim e o outro e eu sendo outro e sobre ti sobre mim ou sobre ti sob o horizonte? A poesia é fácil quando se sofre mas há hinos à alegria a atravessar os séculos.

Comunicar? Receptor emissor mensagem ruído canal código. Escrever é comunicar?

Quando escrevo para mim comunico-me? E se a mensagem é confidencial e eu o intruso a ler-me? E se o canal está imbuído do ruído do ego? E se me não encontro a ouvir distraído no ler ou aconchegado num lar demasiado meu? Não, não me parece que escrever para mim seja comunicar. Registar, relatar, descrever; não comunicar. Isso implica outro sujeito. E esse sujeito deve querer ouvir.

O símbolo surgiu antes do signo, o significado é prévio ao significante. E se no princípio era o Verbo, a palavra é o que nos resta do Divino. Pode já estar morto, mas ainda o ouvimos. Mas, isso é certo, ele não pretendia comunicar. Não tinha, de Uno, ninguém com quem. O nosso Universo é filho da mais desesperada das solidões. Ou um mero embuste teológico. Fomos criados à imagem e semelhança de um mudo?

Certos como uma hieroglífica certeza, a que acedemos por janelas estreitas, olhamo-nos nos olhos e trocamos de língua e ensinamos e aprendemos; apreendemos? Não, não me parece. Resta-nos a profunda mudez fundadora, o grito que lançamos no nascer. Razão tinha Eva, que recusava ordens não escritas, razão tinha Moisés que trouxe a Lei em tábuas, razão tenho eu quando me recuso entender-me, codificar-me, vazar-me em molde.

Comunicar?

Fim d’Hoje

Curtinho como esperanças pequenas. A palavra anda perdida pela floresta dos dias, sem migalhas nem gengibre. A palavra saiu e não disse onde ia. Voltará, porque não se despediu. E a palavra escrita implica, porque alfabética, alguma educação. Por todos os arautos de todos os finados reinos, correu um dia. Anda cansada. Mas voltará, porque é de sua natureza. A palavra sabe-se redonda, e gosta de se circular.

Adenda

Bob Dylan, Masters of War, Freeweeling, 1963. Hó Yea.

Adenda 2

“A distância só se torna crónica pela ausência de meios de transporte” José, Engenier, primeira década do presente século

Adenda 3

“O poder redentor da jardinagem é a opressão fascista dos canteiros” Manel, jardineiro da CM do Barreiro, m.d.



quinta-feira, dezembro 13, 2007

 
50º.
.
Sendo hoje quinta, dia rural por excelência, e por estar farto de mim, decido, na brusquidão do borralho e do Rock and Roll ( and I like it ) emergir do meu auto-retiro, e postar ao estilo clássico. Ando calado de um silêncio escrito ( ou não ), por motivos que não entendo, nem pesquiso. Cortei ou cederam, as amarras do meu bote, e fui na corrente do sem remo, no caminho enlameado, sem leme.

Motivos tenho todos e nenhum o motivo é um sobretudo. Apenas desliguei de um habitual que se tornou impossível, vácuo. Agir num sentido e com um sentido é privilégio de poucos, e raramente. O normal é o disperso o polipolar. O normal é a cabeça solta e um desejo largo. Normal sou eu e todos os que me apoiarem. Com lealdades ternas ou outras. Com a firmeza do discurso e a clareza de intenções. A política do eu é forçosamente autocrática, já dizia Hümelaüt em pleno séc. VII enquanto bebia cerveja à sombra do Castelschloss. Alles ist weg.

Interlúdio Romântico

Alicerce

A rigorosa linha traçada pela rigorosa mão
A desenhada letra traçada pela desenhada mão
Bloco

Arquitectura de sílaba
Tonalidades de cor
Tijolo

Viga
Métrica medida marcialmente
Ritmo adquirido pedagogicamente

Trave
Abecedários antigos
Letras novas
Léxicos frescos
Palavras vivas

Abóbada
Verso verso verso
Intricadas estrofes

Edifício vocábulo
Prédio voz
Alicerce

Pináculo oco de catedral vã
Ido aos céus
Em planta

Grito mudo o grito de quem cortaram a língua
E penso basilar a projecção do eu
E penso a minha sombra
E grito o gesto de quem queria ida a luz

Fundação oculta
Solar de chão
Térrea de ar

N. Kinsky

Viva viva é de cá de cá donde. Português sim sou de cá porquê? Porque não parece não tem pinta de ser. E tenho pinta de quê? De nada em particular quer dizer tem pinta, muita pinta, mas não é pinta de cá, tem pinta de Norte e viagem, de outra maneira de olhar e dizer. Em que país me pintava em nenhum por isso é que perguntei não lhe nacionalizei a pinta, tem ar apenas…de estrangeiro.

Então sou um Camus para si como é que se chamava o Estrangeiro não sei acho que ninguém sabe será que tinha nome? Nome tinha mas não ficou, ficou só o título e a candura magrebina vamos fazer assim tenho um lá em casa dê-me o número e eu ligo-lhe a dizer como me chamo como te chamas? Eu ou a minha pinta? Gatopardo, pode ficar gatopardo que já não é Camus mas levou uma vida a criar e olha o Mediterrâneo com olhos mais de Norte.

Vamos já a tua casa que tenho pressa na dúvida quero um nome que não seja outro, um nome mais, e menos Estrangeiro. A minha casa não é aqui, é quinhentos quilómetros a Norte. Então é na minha também tenho lá um e uma biblioteca inteira para mandarmos um ao outro se nos restarem as garras e as vontades felinas. Esse era de quem? Não sei mas era de panteras e garras e de mulheres de muitos e variados apetites. Tens fome?

Fim D’hoje

Lembram-se de antes de haver rede? Tenho andado por lá. Também desisti da televisão, mas ela mete-se na vida das pessoas pelas frinchas, no vento e nos retrovisores dos carros. Eu sou frio. Dou-me pouco. Paradoxalmente recebo muito. A melhor maneira de parecer inteligente é ficar calado muito tempo, dizia Marilyn. A mim, apeteceu-me falar outra vez. É bom.

Adenda

Rolling Stones, somewere in Central Park, N.Y. ( hó yé ) Década de setenta p.p.

Adenda 2

Hümelaüt, Augustin, Cozinheiro Epicurista e Fatalista

Adenda 3

E não é que ele não tem mesmo nome?

quarta-feira, dezembro 05, 2007

 

f)

quinta-feira, novembro 29, 2007

 
e)

Do capítulo da ausência
Dos rastos mudos
Da mudez capital como as penas
Finais
Absolutas

No não poder dizer
Ou dizer a equivocada linha
Silenciar uma voz
Que não há
Que se foi porque tinha de ir
Já não servia
Já não dizia o sentido do ser

Do capítulo da constância
Espassa-se o uso
Pena-se saudades
Da diária letra
A amizade sem mão dada
Aqui
Onde é fundamental dá-la
Mesmo que a negue o tacto
A distância eléctrica
O zero e o um

Do capitulo do retorno
Será que houve ir?
Permaneceu o monte da letra
Escrita permanente
Queria voltar?
Será que saí?

Sabia de uma solidão menor
Se o mundo tremesse lá fora
Dos frios habituais

Do capitulo dela
Quem sabe do destino
Profeta apóstolo ou outro
Sabe que ele não está nas cartas
Mas como se jogam
Ou como se escrevem

Ler a entrelinha
Ouvir a pausa

O sol de Inverno perfura a nuvem
O frio costurado em mechas
Só ligeiramente quentes
Intensamente doces

quinta-feira, outubro 18, 2007

 
d)

Enredado nas peias de um amor recente, sinto-me em falha para os mais antigos. Este de vir aqui escrever, por exemplo. Tornou-se um amor. No sentido de à camisola. Faz falta vesti-lo e usa-lo. Aqui e pelos outros cantos desta casa vasta. Assim, senhores, e pondo de novo a culpa na doçura e generosidade da Vida, vai de post.

Amor vaga onda maré
Coisa liquida e viva
Fluidez de seixo
Dureza fluida

Na tua falta
Que ultrapassa um mar
Faltam assim seis
Quase não dói

Um flash cinéfilo pasma-me, e vejo um Ivan Terrível como os anjos de Rilke. O peso da palavra ignorada, o imperioso trans-linguístico da Ordem! Sangue e neve. Sangue e arena. A Toirada como guerra branda? Goya para ti, se me leres. E se não também. Por quem os sinos dobram é por ti agora, e fazem-no com assiduidade. Nossa senhora do bronze doado. Nove mil almas cobertas. Um Cristo já extraído de cruz mas com a cruz como basilar. Viva a nova ideia de basílica. Fora o sacrifício.

Meio D’hoje

Inaugurando aqui esta, parece que é nova; grandes mudanças. Há dias que não escrevo, estou perro. Até as mãos não acertam com o rigor costumeiro na tecla familiar ( esta saiu bem ) . Escasseia-me o assunto, e sem ele não há assento. A falta de espaço repentina. Perdi o meu Tempo. Mas não por muito tempo. Sou um urban hicker. Tenho fôlego e as rampas não me assustam; os cães sim.

Ando feliz.

Na ventosa casa começo a tremer de frio; devia ir para o Sul, como um passarinho que conheço. As rotas traçadas no intangível, o mais velho dos triângulos: mar céu e esperança. Equilátero, bien sur. Ou não. Há uma saudade amarga no amar de novo? Ou o amargo é só a amor velho? E la nave vá, na onda do improvável sobre a quilha do possível, or something like that. Que navega, navega, e contrastada ao poente, com gaivota e tudo. E seus mil capitães e essas coisas todas.

Today’s The End

Num tropeçar, constrói-se. A surpresa, de que fujo habitualmente, surpreendeu-me. E foi bom. Obrigado, Vida. Não que eu não agradeça todos os dias, mas há dias mais pesadamente dias. No sentido de densidade cósmica: Shazan! Ou Kameamenu! Assim como transubstanciais, perdoem senhores a heresia. Perde a escrita. O imput é neste momento muito mais, e novamente, pesado. O que é positivo: Ando feliz.

Adenda Única

Por ordem, e pedantemente, espalhei nos textos supra numerosas referências, de modo a alimentar o mito da minha erudição. Referi personagens históricas, algumas da minha pessoal, e não troquei os nomes porque já não me lembro de nenhum. Bem hajam, e que as andas do sonho nunca lhes sejam curtas.

terça-feira, outubro 09, 2007

 



C)

A minha vida mudou no dia da república. Parece-me bem. Agora o mar ainda mais importa. Com a mais valia tremenda de haver pontes novas; ou túneis. Maneiras de chegar a. Tentar chegar a. Assim, como é óbvio, avio-me em terra, titulando as precedentes:

I – O andar de cima; ( os dois corações são dedicados à Adelaide );
II – O Tintin, o sabre e a necessidade do restauro;
III – Par de tempos e violetas;
IV – O andar de baixo ( porque não dedicado a mim? ).
.
Adenda
.
“Tu nunca conseguiste resistir a mulheres que amam as tílias” Maria A. P., verdadeiramente séc. XXI
.
Adenda 2
.
“E é assim que se põem homens na lua” colectiva, na orla da República ( ici lá Place ), sábado transacto, Aeminiun
.
Adenda 3

.
“Afinal o que importa não é a literatura” Cesariny, Mário
.
Adenda 4
.
"O FCP ganhou à AAC, e eu nem sequer suspirei", Dr. Tempo, num dia romântico de Outono

terça-feira, outubro 02, 2007

 
b)

Trinta e nove é o meu número de anos. Este seria o quadragésimo post deste blog. Ora, trata-se aqui de “Outro Tempo” como o próprio nome indica ( é checar, senhores, o cabeçalho ). Assim, não me apetecendo o cronológico, será servida a mistela com titulagem diversa, desta vez com alíneas. Começo, como me parece óbvio, pela alínea b). Se não parecer óbvio a mais ninguém, sou eu que estou mal. E assim terei espaço para melhorar, pelo menos aos olhos de alguém mais óbvio que eu. Eu não sou lá muito óbvio, excepto quando tento namorar. Aí, sou demasiado óbvio. Mas a perfeição é propriedade exclusiva da divindade, como é óbvio. A nós cabe melhorar.

De repente assalta-me um parêntesis. O outro dia estava a beber o meu jackzinho esperando a pandilha, e conheci o faísca e o dono. O dono era fã do esperanto e sofria da próstata. O cão, velho, ficou à minha guarda, um ror de vezes “é que ele vem sempre atrás de mim”. Enquanto o carregava de festas, solidamente agarrado a uma corrente ecléctica, composta de materiais de origem diversa, dos quais destaco, como é óbvio, uma corrente daquelas que antigamente serviam para tapar as banheiras, fiquei na ponte da ternura entre bicho e homem, entre xixis e fidelidades. Aquando uma das suas numerosas voltas, que faísca saudava sem qualquer efusão, fui acusado de ser um Cristo. Atribuí ao cabelo comprido, como é obvio. Espero que durem. Pelo menos, de aqui ficarem já não se livram.

Ponte de ternura é bonito.

Alinhavando

Estou quase a ficar sem Interlúdios Românticos; estou, também, sem pachorra de andar atrás dos que restam. Quando voltar, voltarão os primeiros. Assim, e tendo inaugurado as alíneas, e alinhavar entre alíneas ser também bonito, irei alinhavando umas coisas aqui pelo meio, para dar corpo à coisa. Como mandei a tv cabo à fava, a realidade, que para mim já era distante, afastou-se ainda mais. O meu dia a dia anda a ser partilhado com pouca coisa, e só leio um jornal por semana por economia de espírito, e volta e meia há coisas importantes que me escapam. Por exemplo, esqueci-me completamente do que queria aqui alinhavar.

Fim D’hoje

Enquanto a quantidade de mim diminui fruto de uma dieta alarve, começo a notar, numa progressão paralela, que a atenção que me prestam aumenta consideravelmente. Resta saber se é uma atenção que preste. Como devorador de beleza e gastador de espelhos, não sou ninguém para criticar. Mas no me mires assi, guapa, que me derrito.

Adenda

“O Pessoa era o Alves dos Reis da Literatura. Tinha várias identidades e usava nomes falsos” Henrique Medina, pintor de nus para a casa de jantar, séc. XX

Adenda 2

Reler, quando houver dinheiro, “O Banqueiro Anarquista”

Adenda 3

“Já não me magoas
Já só me torturas”

Anónimo, Sudoeste Asiático, anteontem

quinta-feira, setembro 27, 2007

 
39º.

A trovoada que trazes pela cabeça solar
Assusta as coisas os bichos
Traz o medo elementar
Pelas cinco sensações
Não não és normal
Porém, quem decidiu a norma
Usualmente não te conhecia
Nem podia prever o gesto de recusa
A negação do senso
A tentação do vácuo
O abraçar do largo
Que é como quem diz o abraçar do nada

Se há distinção entre Homem e Mulher
Passa sobretudo pelo olhar
Há quem fale de cheiros e sons e toques e sabores
Eu acredito que se algo nos separa são os olhos

Ver o Mundo
A tremenda responsabilidade de ver o Mundo
Escapa

A quem acredita que o que conta é contar o Mundo
E escapar dele pela escada diáfana de um sonho
De Sul ou Norte

Ver o Mundo
É saber o momento incontável na procissão
Absolutamente Sagrada
Absurdamente Sagrada
Do nada ao tudo e outra vez ao nada

A maré e o refluxo cósmico
A que não se acede por matemáticas vãs
Nem por somas de letras
A que apenas se acede pelo fundir dos olhos
Pelo soldar das mãos ao absoluto Já

Por isso
Mulher que acredito diferente pelos olhos
Segue o sonho de Sul ou Norte
Eu fico cravado na minha duna de gaivotas
No murmulhar do Oceano extinto
Pelo tempo que velo
Inevitavelmente extinto
E absurdamente belo

E aqui, onde lavro a folha
Sei já morta a última semente
E a mecânica do verso oculta ao derradeiro Homem

E aqui, onde rezo o Hoje
Sei-te já ida desde que me nasceste
E a opção por nós diluída em fumo

quinta-feira, setembro 20, 2007

 
38º.

A espuma branca corre-me aos pés mergulho as mãos a concha o cabelo as sobrancelhas o sal na boca o pescoço de repente frio, esfrego as carótidas e os pulsos, os pés submersos afundam na pasta de areia o mar está daquela cor que às vezes é a dos meus olhos. Um dia, entre contas indiscretas soube que os meus nove meses começavam em Setembro, por isso sei que foi aqui, talvez frente a este mar que começou o desejo que me trouxe. Ouve cinco antes de mim, e o primeiro desejo sei que é mais de Sul, e até sei nomear a terra do primeiro olhar, mas o meu, se não falhou a conta, é daqui. O meu amor a este mar é sabe-lo pai primeiro, o gosto desta onda é sabe-la mãe antes?

Murmura, quase canta a água a entornar-se sucessiva na costa fito o sol e uma bênção de paz serena, de meiguice despojada veste-me o tronco nu arrepia-me primeiro o nariz depois a espinha e a sensação de uno com o mundo acentua-se. Faz-me falta o toque. Finco os pés na areia e incomodo um seixo com a ponta dos dedos, sei de peles mais frias, bocas mais mudas. Não me falta mais nada. E não tenho nada para dar. Não haverá frutos em Junho.

O teu amor sabia-me a pouco
Quando acabou sabia-me a nada
Haverá ainda algum amor para dar
Haverá ainda vontade de amar?

Um tempo de retornar
Ilude-me em miragem fria
Não sei de onde vim
Sei para onde não quero voltar

Interlúdio Romântico

Hoje não há.

Fim d’hoje

Amanhã há mais.

Adenda

“Sonhar o impossível, concretizar o belo, amansar a esperança” Dr. Tempo, quando soube que ia para Dr. outra vez.

Adenda 2

“A tonelagem de um navio é visível quando se pesa a totalidade da equipagem e o desgaste do motor de vante” Zé Marinheiro, Português de Braga, aquando adquiria um canudo numa loja do Chinês, dealbar da centúria corrente.

Adenda 3

“Vou comer ideias
Pagas em Propina
Restaurar as meias
Jantar na Cantina

Cantar o bom fado
Em altiva voz
Um pouco tocado
Com as mãos no cós”

Popular, in “Cancioneiro das Beiras, Sobretudo das do Meio” Edições Palimpsesto, Sangalhos, 1981 ( ó ié )




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