Sempre e nunca. Tiro no escuro, que perdi indicações de origem. Mesmo assim tento o texto. Deve-se sempre tentar o texto. Nunca se deve deixar de tentar o texto. Alfa e Ómega. Princípio e Fim. Sempre. Definitivo. Uma constante constante ao longo da linha temporal. Temporal, esse, nunca constante, porque depois da tempestade vem a mudança; ou a bonança; Nunca jamais em tempo algum. Negação absoluta de sequer uma vez, uma só vez para ver como é. Nunca é para sempre. Sempre nunca admite a excepção. Nunca fiz. Sempre farei. Como linhas paralelas, estes carris em que assenta a locomotiva do impossível. Nunca digas nunca. Sê sempre um homem de palavra. E se jurar nunca jurar, a primeira jura conta sempre, ou nunca conta? Baralhado estou nestas eternas contas. É tempo de buscar sinónimos.
Nunca. Tem dois sentidos possíveis: nunca aconteceu nem acontecerá; neste sentido é sinónimo do Caos primevo; o nunca é o que está antes do Universo, o caldo (?) de cultura do Cosmos; é um espaço sem Tempo, a que podemos remontar pela Filosofia, mas que a Física não abrange. Não É. O outro sentido é o da negação absoluta da repetição: o Nunca Mais; existiu, marcou ( daí o enfase: nunca mais ); mas está interdita a sua repetição. E é por aqui, pelo interdito, que se pode fazer a ponte ao primeiro dos sentidos, o do Never Never Land do Éden, que é o princípio do Tempo.
Sempre: implica pelo seu lado uma constante repetição ao longo do Tempo. É perfeitamente Físico, palpável. É activo, no sentido de positivo. Sempre É. Com todas as suas características inalteráveis, a maior das quais a permanência. E ao dizê-lo, invocamos, para sempre, a constância da sua existência. Podemos Filosofar com Ele, mas não sempre. É território para Amores, é sinónimo de Fidelidade, é elo e corrente no mesmo plano e momento e movimento. Se nunca era um Éden prévio, sempre é um Céu Eterno. Sempre é o próprio Tempo.
Interlúdio Romântico
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Nunca vi de ti mais que o canídeo
Feroz que preda impune a floresta
E tu a outra que teclas por instinto
Sei da letra o nome e isso basta
Eu por mim corro tempos que imagino
Por saber que o tempo não me larga
Eu por mim vou pensando e indo
É a minha maldição, a minha praga
Nunca e sempre, e sempre é nunca
Porque sempre nunca deixará de ser
E nunca, nunca cessará em nós
O bom desejo de permanecer
Fim D'hoje
Das citadas espero notícias que me permitam estender o raciocínio. Fica em aberto o assunto.
Adenda
Sempre respeitando o nunca, Adão não comia fruta. Foi o primeiro dos carnívoros. Nunca rejeitando a beleza, Eva estendeu a mão. Foi a primeira das ousadas.
Adenda 2
Conferir Mark Twain, numa edição do Circulo dos Leitores de há 30 anos, com uma capa de um vermelho extraordinário. Tem uns diários...