Outro Tempo

Porque às vezes mais não é suficiente

terça-feira, junho 05, 2007

 
25º.
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Nesta rede as aranhas devoram-se umas às outras, e as poucas moscas que há voam velozes e iludem as teias, nunca satisfazendo os apetites. Canibais, vamos pulando, e sobrevivendo de vassalagens, umas sinceras, outras nem por isso. Esta rede, não me cansando, empurrou-me para um canto, onde nada de novo chega, e quando chega encontra a minha vontade velha. Estou, daqui a nada, a fazer dois anos de blogguer. Os anos de blogguer devem ser como os anos de cão, ou pior. Dois devem significar dez. Estou saturado. E de mim, ainda por cima. Nos últimos tempos, cada vez que escrevo, vou até um parágrafo. Depois não gosto, depois apago. Depois amuo e fico dois dias sem tentar, e de novo o paragrafo, e o apagar de novo, e já são quatro dias. A sensação que não tenho nada para dizer instala-se. E convenço-me. E sei que não tenho nada para dizer.
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Mas tenho o blog, este filho voraz, para alimentar. E tenho gente que gosta de mim a pedir que diga, que apenas diga. E tenho a minha vaidade de escribinha, e o gosto de mexer com a língua. E tenho o Tempo.
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Assim, vai de esforço, mas vai. Daqui, senhores, vai sair post. Não será dos melhores, mas sei que um dia conseguirei fazer pior. Peço-vos, pois, condescendência.
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Ontem fiz anos e a vertigem dos quarenta transformou-se em queda livre. Trezentos e cinquenta e cinco, and counting. Quero arranjar uma moça de vinte e um, primeiro porque já é maior, e depois porque posso dizer, e nem sequer tem menos vinte que eu. Quero um carro potente e veloz, porque já matei três que eram velhos e lentos, e estou farto de comboios com ar condicionado. Quero ir de férias para Nova York em Agosto, porque não há aviões para Vladivostock em Dezembro. E quero amar assim perdidamente porque conheci alguém que não amava a Florbela.
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Canção dos Anos
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Os anos acumulam-se em pó e pedra
Numa torre circular de vida e tempo
Sobem em escada escusa e degrau liso
E quando se tropeça não se cai
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Tu que me fizeste subir ao patamar
Tu que me disseste sobe
Sabias a escada condenada
A uma pena que o vento não sopra
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Ontem não soprei velas
Como quem as apaga apaguei os meus cigarros
Trinta e nove novos anos
E a alma um tudo e quanto amarga
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Interlúdio Romântico
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É Sexta
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É sexta de sol e logo vou ver o Sassetti. Gil Vicente a soar Jazz num três quartos de cauda que ali parece ter a cauda toda abençoado o traço de quem traçou aquela sala. Vou mais a Maria ouvir Alice que acompanhava um filme de ver que eu não vi; ouvi e fez-me chorar à beira Ria sentado num toco de eucalipto não são só as cebolas vegetais pluviantes. Tinha a cara cortada de ter caído mas chorava porque aquela Alice com a Ria plana como uma autobähn e coisas bicudas no peito me deram um suspiro a ouvir o piano e talvez o sol da manhã zurzindo no olho tenha ajudado, ou talvez eu queira querer que sim; hoje não choro. Vou ouvir Sassetti ao vivo a última vez que o vivo era ele e o Laginha e a Maria João e uma orquestra e o Gil Vicente abençoado o braço de quem traçou aquele canto. Também havia Maria naquele dia mas dá-me a impressão que ainda não havia Alice só Indigo, mas não digo de certeza certa; não houveram lágrimas, essas eram para depois, num até Jazz me parece agora, porque é quê as memórias se medem às músicas? A Maria chorou, mas não de tristeza, de alegria incontida sentida cá fora num lavar de rio de antigamente quando não havia máquinas de lavar por dentro. Os sacos lacrimais são metáforas bipolares ao contrário das nuvens que só choram quando aumenta a humidade e baixa a temperatura. Temperamentais para sacos, I say, não se remetem ao papel de contentores, viram-se por dá cá aquele vento, quer de Sul, quer Nortada. Abençoada então a música, a lágrima e pianos com cauda que nos fazem abanar a nossa numa alegria cachorra de ser sexta de sol e ir ouvir logo o Sassetti.
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( Porque Sexta-Feira fui ver o Carlos Bica e lembrei-me e porque houve um Piano que se calou )
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Fim D'hoje
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Quando eu acho que sou ingénuo, muitas vezes tenho razão. Já fui muleta de muito coxo, que nem sequer precisava assim tanto de muleta. Mas pronto, nessas alturas penso na bengala de castão de prata que o meu pai agora usa, e já foi usada pelos avoengos, e sei que, a ser muleta, o fui com estilo. Abençoado então quem me levou pela mão aonde queria ir. E que não tropece muito sem mim.
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Adenda
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Será que o Muro das Lamentações faz eco, e se sim, alguém lhe ouve as vozes?
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Adenda 2
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Parabéns a mim, porque os que me deram foram escassos, e eu queria mais. Mais parabéns!

Comments:
:)
Se vires oq ue comentei hoje no blogue vais ver que tenho razão. Devo ser ar. Cheguei aqui para ver se havia post novo e vi este com "0" comentários. Estranhei, estive cá ontem e escrevi.

Pois, está no post anterior :). Beijinhos, noite feliz
 
vassalagens!!!

nunca!!!!
 
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