26º. .
“O tempo não é um conceito empírico derivado de uma experiencia qualquer. O tempo é uma representação necessária que serve de fundamento a todas as intuições.” Parece que é Kant. Acho um completo disparate, mas parece que é. Há que respeitar, portanto. Mas acho que é um completo disparate. Apanhei isto como é costume, num sítio qualquer, onde as navegações nos levam, neste passear da bloguice, labiríntico e concreto, cheio de coisas bonitas e das outras cheio. Um Mundo. Quanto à frase de abertura, além de ser uma boa frase de abertura, não vejo porque é que o tempo não há de ser empírico. Sobretudo como conceito. Então empírico não é derivado dos sentidos? Então os conceitos vêm de onde? Não vou agora reler Kant, senhor que até prezo, mas derivar todas as intuições, por excelência sensoriais, de uma fundação temporal exterior ao mundo? Quer dizer, as intuições datam-se? Vou ter de reaprender Filosofia. Ou deixar de ler citações.
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O meu problema é vocabular, eu sei. E o original é alemão, ao qual não acedo há muito tempo. E o Sr. não dizia disparates. É o tal que nem levou a mulher a enterrar, tão preocupado estava a fundar a ONU, ou a CEE, ou uma coisa dessas. Mas quando li, não gostei. Primeiro, a experiência do tempo não é exterior ao Humano, é anterior, será posterior. Nunca exterior. Depois, não me parece que seja necessário para coisa nenhuma, quanto mais para as artes do palco. Uma peça sabe-se quando começa, não quando acaba, o que é bom. E Teatro Necessário é quase tão mau como Teatro Subsidiado. O Tempo enquanto representação? Não, a não ser que seja uma Revista. Que sublinha, que comenta, que se ri e faz rir.
.Quanto a ser fundamento de todas as intuições, teremos de intuir que todas as intuições são posteriores ao tempo. Mas não, há pelo menos uma que é simultânea. A intuição temporal. Do género “hoje vai fazer mau tempo”. Frágil, como Filosofia. Mas como ele devia estar a falar de Zeit, eu sei lá...
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Under a Bridge
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Sê uma espécie de ravina
A minha inclinação romântica
Quero pender para ti
Num desnível parco
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Amar enquanto sinto
De ti a ladeira e o degrau
Amar-te em desvantagem
Propositada miragem
.O metro passa a D. Luís
Lá muito em cima
Na noite não lhe vejo o amarelo
Mas sei-o
.Sê tu assim
A cor que sei sem ver
E sem te ter
Ó tu que passas
.Dissecação
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Tempo
≠ conceito empírico
+ experiência indiferenciada
Tempo
= representação necessária
= intuições
Conceito empírico
≠ representação necessária
Conceito empírico
≠ intuições
Intuição
= conceito cientifico?
Tempo
= Supra sensacional?
.Resumindo.Alguem vai ter de dar uma refrescadela a Kant, e não vou ser eu, de certeza. Aceitam-se conselhos, caso já tenha sido dada.
.Interlúdio Romântico
.Porto
.Dado o salto sobre o precipício da alma
Num arco de gazela parabólico
A Arrábida convida-me sobre ela
E o céu é rosa, oiro, azul
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Rente ao Doiro, serpenteando ligeiramente bêbado
Embriaga-me este Porto sempre novo
Vintage regando o coração inquieto
Minha alma que balança entre dois pólos
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Gosto daqui um gosto velho
Do cinza do granito da luz velada
Mas com sol, com este sol
Parece-me ainda mais gosto o gosto antigo
.Fim D'hoje
.Não sei Filosofia. Mas sei que a Filosofia nasceu da disputa da ideia, e da procura de conceitos vastos que moderassem o Social, justificassem o Político, e servissem o Ético. Sei que citar é bom, correcto e necessário, mas também sei que citar porque é bonito pode ser chato. Citei a citação de alguém que citou. De onde? De uma folha esquecida no fundo de um gavetão? De um papel que era para acender a lareira? Ou o parágrafo fundamental do clássico que mudou o Mundo? Saber é acumular, e muitas vezes disparates. A maldade que eu fiz ( tentei fazer ) ao velho Kant é uma maldade de admirador mal servido. Como quando vamos aquele restaurante e não há o prato do costume e comemos o mesmo que havia em casa porque raio é que saímos kind of thing. Perdoem por isso, senhores, mas se saímos da caverna, provavelmente ainda temos barro nas botas.
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Adenda
.“O tempo não é um conceito empírico derivado de uma experiencia qualquer. O tempo é uma representação necessária que serve de fundamento a todas as intuições.” - Immanuel Kant – 1724 a 1770 – Gostava de salchichas porque não tinha alternativa, e de pensar porque não tinha televisão. Bom tipo. Um bocadinho chato, mas bom tipo.
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Adenda 2
.“O Tempo não é um conceito, nem pode ser conceptualizado. Não pode ser medido, nem pode, enquanto totalidade, ser instrumento de medida. É abstracto, como tal ilegível a luz do “normal”. Se um dia tiver tempo, explico.” - Frei Tuck, quando estava bêbado, à sombra de um vasto carvalhal, para uma galinha. Frei Tuck também gostava de salchichas.