32º.IChegam ecos de mim e já não sou
Quem gritou
Vejo a fotografia da cara
( Aquela cara saiu cara )
E já não é a cara que me trespassava os sonhos
Num trotar anda mi alma
Sobre multidões tão mansas quanto eu
Elas ainda podem olhar para cima
Eu já nem olho para nada
II
Não sou de dizer o adeus
Das palavras todas
Eu sei que há palavras que nunca vão embora
Não sou de acenar lenços em cais
Nem de largar lágrimas
Sou de sofrer dentro e construir canais
Partir parto todos os dias em que acordo
E é a mim que deixo
Não há mais amarras pendentes dos meus braços
Já não dou abraços
Vi de mim o futuro nos olhos dos velhos
E nos gestos lentos com que já não agarram nada
Sei de mim a solidez infértil
Árvore solitária na planura árida
E agora paro no centro do quadrado dos quatro horizontes
Que afinal é círculo em que rodo lento
A panorâmica nua da esperança
O sonhar futuros nem sequer sonhados
Vai, vai de mim o espaço branco do mapa
Quero minha preenchida toda a carta
E acabar aqui
Porque aqui me sei
IIIO hiato entre ver e dizer
É mais abismo que ponte
A garganta das palavras perdidas
A vertigem da silenciosa vista
Dar o passo novo com estas mesmas pernas
Insistir o verbo a galgar o espaço
O retorno ao palmilhar sonoro
E dizer o quê se nada novo se colou em mim?
Repetir o circular trovão
Rodeado à mesma chuva
Ser raio no dia claro
Tempestade no brilhante Verão
Ser é ser que não consigo
Porque ser é forçosamente ser distinto
E sinto-me a tinta da parede
Ou cardume em rede
Vou então estar que também gosto
Para estar não é necessária intensidade
Deixar escorrer este já velho Agosto
Por entre escamas de brilho e saudade