Outro Tempo

Porque às vezes mais não é suficiente

quinta-feira, setembro 27, 2007

 
39º.

A trovoada que trazes pela cabeça solar
Assusta as coisas os bichos
Traz o medo elementar
Pelas cinco sensações
Não não és normal
Porém, quem decidiu a norma
Usualmente não te conhecia
Nem podia prever o gesto de recusa
A negação do senso
A tentação do vácuo
O abraçar do largo
Que é como quem diz o abraçar do nada

Se há distinção entre Homem e Mulher
Passa sobretudo pelo olhar
Há quem fale de cheiros e sons e toques e sabores
Eu acredito que se algo nos separa são os olhos

Ver o Mundo
A tremenda responsabilidade de ver o Mundo
Escapa

A quem acredita que o que conta é contar o Mundo
E escapar dele pela escada diáfana de um sonho
De Sul ou Norte

Ver o Mundo
É saber o momento incontável na procissão
Absolutamente Sagrada
Absurdamente Sagrada
Do nada ao tudo e outra vez ao nada

A maré e o refluxo cósmico
A que não se acede por matemáticas vãs
Nem por somas de letras
A que apenas se acede pelo fundir dos olhos
Pelo soldar das mãos ao absoluto Já

Por isso
Mulher que acredito diferente pelos olhos
Segue o sonho de Sul ou Norte
Eu fico cravado na minha duna de gaivotas
No murmulhar do Oceano extinto
Pelo tempo que velo
Inevitavelmente extinto
E absurdamente belo

E aqui, onde lavro a folha
Sei já morta a última semente
E a mecânica do verso oculta ao derradeiro Homem

E aqui, onde rezo o Hoje
Sei-te já ida desde que me nasceste
E a opção por nós diluída em fumo

Comments:
e agora?????


__________________


qual gaivota voo.


sobre esta maré de olhares profundos!


_________________nem um búzio me salvaria do espanto.

nem uma oração concessiva..:))))

___________________


belíssimo Paulo.


mesmo.


_________________.

conheces o bicho eremita?
um dia explico....

_____________um abraço. a rasar esse imenso e múltiplo nada.
 
não pesquizei...:)))) curiosamente tb existe ao sul de Dakar...encontrei lá....:)))
__________________
e não é uma mulher...

é uma "espécie de cristo"...:)))
___________________

e era sobre a BirmÃNIA...O post...
____________________e adoro ver.te a tentar ser "mau".



beyjos.
 
Tu vês o Mundo de uma forma muito bela.

E não me atrevo a dizer qu é um olhar de mulher :) . Em troca de um grilo verde e como não tenho jeito para as palavras (mas já te respondi à minha maneira) deixo-te aqui um poema que me toca particularmente. Gosto muito do poeta, espero que tu também o aprecies.

E a Morte Perderá o seu Domínio

E a morte perderá o seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Não hão-de gritar mais as gaivotas aos seus ouvidos
nem as vagas romper tumultuosamente nas praias;
onde se abriu uma flor não poderá nenhuma flor
erguer a sua corola em direcção à força das chuvas;
ainda que estejam mortas e loucas, hão-de descer
como pregos as suas cabeças pelas margaridas;
é no sol que irrompem até que o sol se extinga,
e a morte perderá o seu domínio.

Dylan Marlais Thomas

Resto de um bom fim de semana
 
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