39º.A trovoada que trazes pela cabeça solar
Assusta as coisas os bichos
Traz o medo elementar
Pelas cinco sensações
Não não és normal
Porém, quem decidiu a norma
Usualmente não te conhecia
Nem podia prever o gesto de recusa
A negação do senso
A tentação do vácuo
O abraçar do largo
Que é como quem diz o abraçar do nada
Se há distinção entre Homem e Mulher
Passa sobretudo pelo olhar
Há quem fale de cheiros e sons e toques e sabores
Eu acredito que se algo nos separa são os olhos
Ver o Mundo
A tremenda responsabilidade de ver o Mundo
Escapa
A quem acredita que o que conta é contar o Mundo
E escapar dele pela escada diáfana de um sonho
De Sul ou Norte
Ver o Mundo
É saber o momento incontável na procissão
Absolutamente Sagrada
Absurdamente Sagrada
Do nada ao tudo e outra vez ao nada
A maré e o refluxo cósmico
A que não se acede por matemáticas vãs
Nem por somas de letras
A que apenas se acede pelo fundir dos olhos
Pelo soldar das mãos ao absoluto Já
Por isso
Mulher que acredito diferente pelos olhos
Segue o sonho de Sul ou Norte
Eu fico cravado na minha duna de gaivotas
No murmulhar do Oceano extinto
Pelo tempo que velo
Inevitavelmente extinto
E absurdamente belo
E aqui, onde lavro a folha
Sei já morta a última semente
E a mecânica do verso oculta ao derradeiro Homem
E aqui, onde rezo o Hoje
Sei-te já ida desde que me nasceste
E a opção por nós diluída em fumo