ThreeEntre o saber e a erudição
A vaga que me falta é a vaga que já tive. Estou portanto entre a mesma vaga. A imobilidade, aqui de gesto, acredita inútil a acção, defendendo em círculo. Sou eu mesmo porque não varia a circunstância. Sou eu mesmo na inutilidade morna do mar parado. Gostaria meu o talento das odes, sou eu o silêncio das hostes.
A vaga que afinal não me falta. A verbe que me abandona quando eu não a procuro. Sou a estátua de sal e ainda não olhei para trás, nem vou olhar. Sou mesmo assim. E se subir ao céu ainda subia, fujo de todos os infernos por falta de jeito. Eu parado sem voz defendendo em circulos.
Acredito ainda na memória porque me lembro do meu reflexo. Reflicto porque me tenho como contraparte. Mas mesmo assim não perdi nada, porque se tivesse perdido lembraria a busca. Ou a brusca falta, a aridez do ido. Eu parado de algum modo cheguei aqui. E nada me diz que irei aqui ficar. O reflexo foi, ou não?
Li, quando lia, o que me parecia bom e correcto. Agora já quase não leio. Mas ficou o sumo depois do fruto, a sabedoria espremida. Um dia interroguei-me se era culto erudito ou sábio, e lembrei-me da minha mãe a chamar-me isso mesmo: sábio. E ela era o discernimento em pessoa. Fiquei sábio desde aí.
A diferença entre o erudito e o sábio é o tempo e a intensidade. O erudito pode saber muito, e possuir todas as teclas, mas não ter a chave, e não ser capaz de comunicar. Pode-se porêm saber apenas o óbvio e demonstra-lo e enterrar fundo nos outros a nossa ideia. E se a ideia coincidir com a idade, o tempo for consoante o modo, com muito pouco se alcança a sabedoria.
Qual vale mais então? A necessária. E o tempo que a decida. E o modo que a construa. E o outro que decida.
Medida
Entre as pedras concertantes
Resto voz e meu silêncio
Em vasos comunicantes
Sereno sem saber cio
Onde estás agora sei
E saberei se quiser
Estas por dentro do poema
Onde não posso medir
Adenda
“O Que é a Filosofia?” Ortega y Gasset, meados da centuria finda, lê o Dr. Tempo, e medita