Outro Tempo

Porque às vezes mais não é suficiente

quinta-feira, setembro 20, 2007

 
38º.

A espuma branca corre-me aos pés mergulho as mãos a concha o cabelo as sobrancelhas o sal na boca o pescoço de repente frio, esfrego as carótidas e os pulsos, os pés submersos afundam na pasta de areia o mar está daquela cor que às vezes é a dos meus olhos. Um dia, entre contas indiscretas soube que os meus nove meses começavam em Setembro, por isso sei que foi aqui, talvez frente a este mar que começou o desejo que me trouxe. Ouve cinco antes de mim, e o primeiro desejo sei que é mais de Sul, e até sei nomear a terra do primeiro olhar, mas o meu, se não falhou a conta, é daqui. O meu amor a este mar é sabe-lo pai primeiro, o gosto desta onda é sabe-la mãe antes?

Murmura, quase canta a água a entornar-se sucessiva na costa fito o sol e uma bênção de paz serena, de meiguice despojada veste-me o tronco nu arrepia-me primeiro o nariz depois a espinha e a sensação de uno com o mundo acentua-se. Faz-me falta o toque. Finco os pés na areia e incomodo um seixo com a ponta dos dedos, sei de peles mais frias, bocas mais mudas. Não me falta mais nada. E não tenho nada para dar. Não haverá frutos em Junho.

O teu amor sabia-me a pouco
Quando acabou sabia-me a nada
Haverá ainda algum amor para dar
Haverá ainda vontade de amar?

Um tempo de retornar
Ilude-me em miragem fria
Não sei de onde vim
Sei para onde não quero voltar

Interlúdio Romântico

Hoje não há.

Fim d’hoje

Amanhã há mais.

Adenda

“Sonhar o impossível, concretizar o belo, amansar a esperança” Dr. Tempo, quando soube que ia para Dr. outra vez.

Adenda 2

“A tonelagem de um navio é visível quando se pesa a totalidade da equipagem e o desgaste do motor de vante” Zé Marinheiro, Português de Braga, aquando adquiria um canudo numa loja do Chinês, dealbar da centúria corrente.

Adenda 3

“Vou comer ideias
Pagas em Propina
Restaurar as meias
Jantar na Cantina

Cantar o bom fado
Em altiva voz
Um pouco tocado
Com as mãos no cós”

Popular, in “Cancioneiro das Beiras, Sobretudo das do Meio” Edições Palimpsesto, Sangalhos, 1981 ( ó ié )




Comments:
Gosto dessa tua espuma dos dias com sabor a sal. E não me surpreende que o desejo apareça onde ele está. Afinal foi o desejo pelo seu sabor que deu origem aos primeiro beijo quando os homens ainda viviam nas cavernas ... depois desde desejo outros desejos terão nascido :).

O teu interlúdio romântico não falta. Só está deslocado. Foi com ele que começaste.

Sonhar. Sonhar sempre. Com o impossível. Se realizável , deixa de pertencer ao reino dos sonhos... e eles não podem morrer.


Beijos
 
Depois dizes que eu te tiro as palavras .. :(

Bom dia, boa semana. Vou-me nas ondas

... desfazer-me na areia :)

GI-nho
 
com um"amor assim" em que se mergulha por entre tanta espuma, como saber que é pouco?



duvido.

_____________

:)

mas como eu gosto de te ler.

beijo.
 
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